domingo, 5 de fevereiro de 2017

Carta de Otto a Murilo

Rio de Janeiro, 16 de maio de 1949.

Murilo,

Não receie tanto. A vida é nada e não há viagens (sobretudo quando se trata de Rio-B.Horizonte). Quer dizer que você vem mesmo da Montanha para esta grande e anônima Chantagem. Mais um profeta que deixa a sua terra... Já não sei, hoje em dia, se convém vir ao Rio. Sinceramente, sou incapaz de opinar nesse caso. Ando muito contra o Rio (apesar de gostar da cidade, de certo modo, e de certas coisas) e contra a ideia em geral de partir, de sair. Tudo me parece covardia, que cometeremos com certa leviandade, buscando fugir, em última análise, do grande, do espantoso fantasma que nos morde os calcanhares: nós mesmos.