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sábado, 30 de abril de 2016

Agora aqui ninguém precisa de si

ex
trair
do tempo improvável, do improvável,
de suas maquinações, ações,
do ato regular que se dissipa em método, todo
hábito que habito, repito,
da meta inalcançável que me fita, cripta
do incontável número dos dias vividos, idos,
da inumerável cota dos dias por vir, ir,
da engrenagem que não para, dispara,
sacode o chão que piso, piso
de um ônibus em movimento, momento
em que me agarro ao cilindro de metal do alto

-

a vida

-

não a que resta ainda, indo,
mas a que transborda de cada ar expirado, inspirado,
até que arrebente, vente.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Arnaldo Antunes

Você que me continua.

se ando cheio me dilua
se estou no meio conclua
se perco o freio me obstrua
se me arruinei reconstrua

se sou um fruto me roa
se viro um muro me rua
se te machuco me doa
se sou futuro evolua

se eu não crescer me destrua
se obcecar me distraia
se me ganhar distribua
se me perder subtraia

se estou no céu me abençoe
se eu sou seu me possua
se dou um duro me sue
se sou tão puro polua

se sou voraz me sacie
se for demais atenue
se fico atrás assobie
se estou em paz tumultue

se eu agonio me alivie
se me entedio me dê rua
se te bloqueio desvie
se dou recheio usufrua.