segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Clarice

Autores são figuras geniais mesmo. É impressionante a construção dos textos. Quando releio algumas coisas daqui das prateleiras, fico tão feliz pela redescoberta......:

"Tenta em vão ler para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo, inventar um programa, frágil ponte que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Como ultrapassar essa paz que nos espreita. Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo possível. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio? Desse silêncio sem lembrança de palavras. Se és morte, como te abençoar?"

Clarice Lispector. Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Página 36 (minha edição da Rocco).

Preciso ler mais Clarice.

domingo, 28 de novembro de 2010

Grande Sertão

"A avaliar o de Diadorim, por igual, como mostrava - outros olhos - o arregalo de ciúmes. Aqui digo: que se teme por amor; mas que, por amor, também, é que a coragem se faz".

Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa. Página 402 (da minha edição - 27, da Nova Fronteira).

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Frase da semana

Frase da Rosana Hermann no twitter (e pedi permissão para colocar aqui, obviamente):

"Coragem é o bombeiro entrar no fogo para salvar uma criança. Falar TUDO que vem na cabeça não é coragem, é falta de filtro social."

Bom final de semana a todos....

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Borges



Borges, um certo dia, fez um passeio de balão. E disse o seguinte:

"Todos sentimos, acho, uma felicidade quase física. Escrevo quase porque não existe dor ou felicidade que sejam somente físicas, sempre intervêm o passado, as circunstâncias, o assombro e outros eventos da consciência."

Atlas - Jorge Luis Borges com Maria Kodama.

obs - uma pessoa entrou pra ler o blog, leu todos os posts, todos os comentários para tentar achar um comentário que desse margem para outro mal-educado. Achou um de dois anos atrás e escreveu algo assim "vixi, você é avessa a críticas". Aí me deu uma preguiça porque, obviamente, o comentário era anônimo e zZZZZZzzzzzzzzzzzzroinc..... e apaguei porque o blog é meu e eu faço o que quiser, néam?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Toada do amor

"E o amor sempre nessa toada:
briga perdôa perdôa briga.

Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta pra brigar
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.

Mas si não fosse elle tambem
que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito"

Drummond. Alguma poesia. E respeitando a ortografia da época.

Boa semana, leitores.

sábado, 20 de novembro de 2010

Shuffle

Por mais que tenha sido eu mesma que tenha colocado as músicas no ipod, o modo shuffle é sempre uma surpresa. E Bethânia apareceu cantando assim:

"Cada vez que no meu coração, morrer uma ilusão, hás de me pagar.
Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar."

E continua...

Música: Lágrima de Roque Ferreira.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Carta

Trecho de uma carta, escrita em 1985, de Caio F. Abreu para uma amiga:

"Mas não vou ceder. Foi a última paixão. Paixão é o que dá sentido à vida. E foi a última. Tenho certeza absoluta disso. Agora me tornarei uma pessoa daquelas que se cuidam para não se envolver. Já tenho um passado, tenho tanta história. Meu coração está ardido de meias-solas. Sei um pouco das coisas? Acho que sim, penso nele. Mas não vou ceder. Certo, certo: ninguém tem obrigação de satisfazer ao teu desejo, pela simples razão de que você supõe que teu desejo seja absoluto. Foda-se seu desejo, ora. Me dói não ter podido mostrar minha face. Me dói ter passado tanto tempo atento a ele - quando ele nunca ficou atento a mim"

Viva o Caio, viva a paixão, e viva o texto escrito com períodos curtos e lindos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

+ poesia

Simultaneidade, de Mario Quintana

"- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo!
Eu creio em Deus! Deus é um absurdo!
Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta."

Bom finalzinho de feriado e boa semana ....

domingo, 14 de novembro de 2010

No aguardo


Estou esperando a caixinha com livros que mandei dos EUA. Ela já vai fazer aniversário de um mês e eu gostaria de assoprar as velinhas aqui em casa, mas será? A alfândega... vou dizer uma coisa... sem comentários.

Enquanto isso. O calendário novo de 2011 da Mafalda, e outros que comprei hoje.....

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ana C.



Os dias passam e hoje já é sexta. E acontece tanta coisa que parece que o hoje de manhã foi ontem.

"Volta e meia vasculho esta sacola preta à cata de um três
por quatro.

Exatamente o meu peito está superlotado.

Os ditos dele zumbem por detrás."


Ana Cristina César. A teus pés. Página 76.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Pondé

Acabei o livro (contra um mundo melhor) e gostei. Até a metade, amei. Depois, adorei. Mais pro final, gostei bem.

E na página 69:

"Sim, eu acredito na infelicidade como matéria de vida. Não que a procuremos, nem precisa, ela nos acha, mas creio na infelicidade como medula, espinha dorsal de nossa dignidade. A infelicidade é a lei da gravidade que reúne os elementos que compõem nossa personalidade. O fracasso é que torna o homem confiável. Imagine se Hamlet só quisesse ser feliz?"

Luiz Felipe Pondé. Contra um mundo melhor: ensaios do afeto.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Postagem 450

Agora que vi que esta é a postagem 450. Que coisa, não? Quanto tempo e quanta lenga-lenga... mas curtimos tanto, não é?

E ainda bem que não concordo com o Leminski e (acho que) tenho alguma coisa pra falar:

"Já disse de nós.
Já disse de mim.
Já disse do mundo.
Já disse agora,
eu que já disse nunca.
Todo mundo sabe,
eu já disse muito.

Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente."

Paulo Leminski. O ex-estranho.

domingo, 7 de novembro de 2010

You or someone like you

Já li tanta coisa desde que acabei este livro do Chandler Burr, mas voltei a ele.

"I agree. The capacity to change is, indeed, one of the most remarkable aspects of literature, and one of the most perennial capacities of the human beings.

And, I add, if a person can change, he can also change back."

Bom domingo, queridos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Bethânia

Estava ouvindo o ipod essa semana, já tinha ouvido essa música da Bethânia várias vezes, mas ouvi este verso aqui com mais atenção:

"E o nunca mais quer fechar a minha janela."

Sem mais.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ânimo



Vocês devem lembrar que durante vários posts eu fico falando que são só os mesmos autores, as mesmas poesias, os mesmos zzzzzzzzzzzzzZzzzzzzz. Essa chatice toda que eu sempre falo. Mas eu ando tão animada agora com as coisas que ando lendo, que nem sei.

E Sophia diz isso (na Sorbonne, em dezembro de 1988) sobre poesia:

"Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.

Pensava também que, se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria, ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si."

Melhor explicação, não há.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Caio



Trecho final da crônica Zero Grau de Libra, de Caio F. Abreu, publicada no Jornal O Estado de São Paulo em 24/09/1986 (está no livro Pequenas Epifanias).

"Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio - Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo o dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse do zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada".

Precisamos, sem dúvida, ler mais sobre astrologia.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Contra um mundo melhor

Esse é o título do livro novo do Luiz Felipe Pondé. Acabei de comprar. Adoro ler e ouvir o que ele diz... Já falei dele em setembro do ano passado... voltem lá pra ver.

"Porque o que nos humaniza é o fracasso, homens e mulheres muito felizes não são homens e mulheres. Tenho medo de pessoas muito felizes. A consciência trágica, seja ela cósmica, seja miserável, miúda e cotidiana, determina o horizonte onde se move o humano".