segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Poesia


Hoje é dia nacional do livro. Absolutamente impossível falar qual meu livro favorito ou qualquer coisa do gênero. Não consigo nem fazer listinha tipo top 5. Cada mês tem um, cada ano tem um, sem falar dos que amo e ponto.

Não pensei 10 horas ou fiquei selecionando entre todos os livros que ficam aqui comigo. Quero a poesia de sempre:

"tem alguém aqui
tem que eu vi um vulto
tem que ouvi os passos
a voz o gesto
tem alguém aqui que é resto
ou insulto
alguém que é incerto
tem alguém aqui que se perdeu
sombra
assombração
lembrança
presença
sou eu"

sábado, 27 de outubro de 2012

Carta da Ana C.


Em uma carta de 21 de junho de 1976, Ana Cristina César escreve o seguinte em dado momento:

"Assim como a crença análoga de que basta acreditar-se gênio, fazer cara de gênio e ser primeira aluna para ser um gênio. Meu Deus, como é ridículo. Como eu me julgava sapiente. Antonio Cândido? Ah, que isso... Como recuperar a humildade sem cair na inferioridade? E como recuperar as pessoas que eu pisei nessa cavalgada das valquírias?"

Pois é. Sempre se faz necessário recuperar a humildade. E recuperar as pessoas? Talvez sim, talvez não. 

E gente julgando-se gênio? Muita. Inferno.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Wild


A Oprah fala e eu obedeço. Amo tudo dela (o programa que morro de saudade, a revista, etc.). Inclusive o Book Club e acho que todos os livros indicados têm um porquê, são bacanas e tudo mais. Clique aqui para ver mais informações de lá. 

Aí na semana passada estava na Cultura é vi "Wild - from lost to found on the Pacific Crest Trail." Eu geralmente não gosto de livros que contam essas histórias de pessoas que vão fazer caminhadas/trilhas/passar meses em um barco por causa de uma tristeza ou tragédia. Mas já que Oprah falou, eu obedeci. E estou amando. A autora fala diversas vezes o que carrega na mochila, o que se leva, o que se deixa, e quando ela foi falar de seus livros, ela disse o seguinte:

"It hurt to do it, but it had to be done. I´d loved books in my regular, pre-Pacific Crest Trail life, but on the trail, they´d taken on even greater meaning. They were the worlds I could lose myself in when the one I was actually in became too lonely or harsh or difficult to bear."


Lindo. 

A autora é Cheryl Strayed e já há entrevistas dela com a Oprah no site, mas ainda não quero dar rosto para a pessoa que estou lendo. Nem voz.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mãos


"Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender."

Boa semana, amigos.

sábado, 20 de outubro de 2012

Segunda carta para além dos muros


Estou há umas 2 horas olhando para os livros e lendo, relendo poesias e trechos que marquei com as minhas páginas favoritas. Engraçado isso. Queria encontrar alguma coisa nova para colocar aqui mas não está rolando. Aí pego pela enésima vez o "pequenas epifanias" do Caio. E este é o último trecho de uma crônica (que é o título deste post) publicada no jornal O Estado de São Paulo em 04 de setembro de 1994.

"Pois repito, aquilo que eu supunha fosse o caminho do inferno está juncado de anjos. Aquilo que suja trava parecia, guarda seu fio de luz. Nesse frio estreito, esticado feito corda bamba, nos equilibramos todos. Sombrinha erguida bem alto, pé ante pé, bailarinos destemidos do fim deste milênio pairando sobre o abismo.

Lá embaixo, uma rede de asas ampara nossa queda."

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O Captain My Captain

Sempre fico muito feliz quando um (ex) aluno lê, ouve, vê Whitman e lembra de mim. E do vídeo do aluno  descobri no YouTube só a letra do poema com alguém declamando. Tão lindo, tão lindo. Vejam só:

É só clicar aqui.

Obrigada, Fabiano! Um beijo, meu querido.

domingo, 14 de outubro de 2012

Vou e volto

Vou, vou, vou e volto para Grande Sertão.

Trecho retirado das páginas 524/525:

"Como vou contar, e o senhor sentir em meu estado? O senhor sobrenasceu lá? O senhor mordeu aquilo? O senhor conheceu Diadorim, meu senhor?!... Ah, o senhor pensa que morte é choro e sofisma - terra funda e ossos quietos... O senhor havia de conceber alguém aurorear de todo amor e morrer como só para um."

Aí a gente lê de novo o sofrimento de Riobaldo. E pensa: quantos livros são capazes de despertar tudo isso na gente? Poucos, meus amigos, poucos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Drummond


Amo os livros do Instituto Moreira Salles que reproduzem exatamente o original. Este é o do Drummond. 

"VII - Rio de Janeiro

Fios nervos riscos faíscas.
As côres nascem e morrem
com um impudor violento.
Onde meu vermelho? Virou cinza.
Passou a bôa! Peço a palavra!
Meus amigos todos estão satisfeitos
com a vida dos outros.
Futil nas sorveterias.
Pedante nas livrarias...
Nas prais nú nú nú nú nú
Tú tú tú tú tú no meu coração.

Mas tantos assassinatos, meu Deus.
E tantos adulterios tambem.
E tantos, tantíssimos contos do vigario...
(Este povo quer me passar a perna.)

Meu coração vae mollemente dentro de um taxi."

O livro é de 1930, a grafia do poeta não foi alterada.

Tantíssimos contos do vigário.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Leminski


Em "Distraídos venceremos" li o seguinte:

"podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano."

Eu e meu amor pela simplicidade e a mensagem direta. Boa semana, amigos!

sábado, 6 de outubro de 2012

Segredos da vida jornalística


Todas as crônicas do Nelson Rodrigues são brilhantes. Todas. Difícil ter lido uma que eu tenha falado: "mais ou menos, não curti". Nesta (publicada no O Globo de 01 de fevereiro de 1974) ele conta algumas coisas da sua vida de repórter. E conta um caso de um homem que estava desconfiado que sua mulher estava tendo um caso com outro e a seguiu  até um hotel e ouviu a sua risada no terceiro andar e:

"Até então, o nosso Disraeli não sabia se odiava a mulher, se a desprezava ou se, pelo contrário, a amava mais do que nunca. Mas o som o enfureceu. Puxa o revólver e faz saltar, à bala, a fechadura. Em seguida, invade o quarto. O amante se enfiou debaixo do guarda-vestido. Não, não. Debaixo da cama. Mas a infiel, mais ágil, mais elástica, acrobática, quase alada, teve tempo de se atirar do alto do terceiro andar. Por aí se vê que ela pecava por sexo e não por amor. O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."

Que delícia de texto. Leiam as crônicas de "O reacionário - memórias e confissões" da editora Agir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Alice


Amo todos os poemas deste livro. Já reproduzi quase o livro inteiro por aqui. Cada coisa linda assim:

"nesta vida
não vai dar
pra definir 
paixão

tantas são
de cada um
a lida
entre as idas
e vindas 
do meu coração"