Todas as crônicas do Nelson Rodrigues são brilhantes. Todas. Difícil ter lido uma que eu tenha falado: "mais ou menos, não curti". Nesta (publicada no O Globo de 01 de fevereiro de 1974) ele conta algumas coisas da sua vida de repórter. E conta um caso de um homem que estava desconfiado que sua mulher estava tendo um caso com outro e a seguiu até um hotel e ouviu a sua risada no terceiro andar e:
"Até então, o nosso Disraeli não sabia se odiava a mulher, se a desprezava ou se, pelo contrário, a amava mais do que nunca. Mas o som o enfureceu. Puxa o revólver e faz saltar, à bala, a fechadura. Em seguida, invade o quarto. O amante se enfiou debaixo do guarda-vestido. Não, não. Debaixo da cama. Mas a infiel, mais ágil, mais elástica, acrobática, quase alada, teve tempo de se atirar do alto do terceiro andar. Por aí se vê que ela pecava por sexo e não por amor. O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."
Que delícia de texto. Leiam as crônicas de "O reacionário - memórias e confissões" da editora Agir.
2 comentários:
"O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."
Como você diz, nem uma palavra a mais, nem uma a menos! Perfeito e cortante!
Vamos ler...
É isso que eu vejo que falta por aí, Elaine. Textos exatos - sem nada a mais nem a menos! Beijos, meu bem.
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