sábado, 6 de outubro de 2012

Segredos da vida jornalística


Todas as crônicas do Nelson Rodrigues são brilhantes. Todas. Difícil ter lido uma que eu tenha falado: "mais ou menos, não curti". Nesta (publicada no O Globo de 01 de fevereiro de 1974) ele conta algumas coisas da sua vida de repórter. E conta um caso de um homem que estava desconfiado que sua mulher estava tendo um caso com outro e a seguiu  até um hotel e ouviu a sua risada no terceiro andar e:

"Até então, o nosso Disraeli não sabia se odiava a mulher, se a desprezava ou se, pelo contrário, a amava mais do que nunca. Mas o som o enfureceu. Puxa o revólver e faz saltar, à bala, a fechadura. Em seguida, invade o quarto. O amante se enfiou debaixo do guarda-vestido. Não, não. Debaixo da cama. Mas a infiel, mais ágil, mais elástica, acrobática, quase alada, teve tempo de se atirar do alto do terceiro andar. Por aí se vê que ela pecava por sexo e não por amor. O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."

Que delícia de texto. Leiam as crônicas de "O reacionário - memórias e confissões" da editora Agir.

2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

"O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."

Como você diz, nem uma palavra a mais, nem uma a menos! Perfeito e cortante!

Vamos ler...

Andréa disse...

É isso que eu vejo que falta por aí, Elaine. Textos exatos - sem nada a mais nem a menos! Beijos, meu bem.