terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Diadorim

Voltando ao normal, no dia do meu aniversário, sempre com Grande Sertão:

"Mas Diadorim perseverou com os olhos tão abertos sem resguardo, eu mesmo um instante no encantado daquilo - num vem-vem de amor. Amor é assim - o rato que sai dum buraquinho: é um ratazão, é um tigre leão!

Conferindo que nem vergonha eu tive. Não ter vergonha como homem, é fácil: dificultoso e bom era poder não se ter vergonha feito os bichos animais. O que não digo, o senhor verá: como é que Diadorim podia ser assim em minha vida o maior segredo?"


sábado, 12 de dezembro de 2015

Dezembro

Estou fora e meus livros não estão por perto. Volto ainda este ano. Coloco a foto do lançamento que está me esperando em casa. 


domingo, 6 de dezembro de 2015

Publiquem mais livros de cartas, por favor.

De Otto Lara Resende para Fernando Sabino. Trecho de carta escrita em Bruxelas, 30 de julho de 1959.

"Deve ter uma explicação, ou pelo menos uma ficha catalogada, para o meu caso. Freud explica isso. Vejo meu nome impresso, me dá um aborrecimento de morte, uma contrariedade sincera, profunda e estapafúrdia, parece acusação pública, prestação de contas, julgamento. Por isso resumi meu nome de Otto Oliveira de Lara Resende para Otto Lara Resende, agora para Otto Lara e já estou me assinando O. Lara, amanhã começo a assinar O., depois engulo esse O. com pontinho, como numa dessas mágicas de circo, sumi, desapareci, me escondi no primeiro buraquinho do rodapé, vou morar no ninho de uma ratazana matronal, espicho a cara num perfil de camundongo, ai como deve ser bom ser camundongo de rabinho não muito comprido, chiando debaixo do assoalho, até que vem o Gatão e zás! Me devora, viro quimo e quilo ventral, saio cocô no cuzinho do gato, vou estrumar uma plantinha tenra, quem sabe perfumarei uma flor silvestre - é toda a glória que posso pedir, eu o inútil, o imprestável, o secreto, o envergonhado de ser, e assim entro no ciclo universal da vida, me transformo, me metamorfoseio mas não no ambicioso besouro de Kafka sim no limpo cocozinho de um preguiçoso gato de pensão (Manuel Bandeira). Não é preciso explicar meu estado de espírito, você já entendeu tudo."


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Uma coisinha linda de Mario Quintana

Remissão

Naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado para sempre não sei de quê.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Poesia reunida

A SERENATA

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
 - só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?