domingo, 28 de fevereiro de 2016

40 dias

Vencedor do Jabuti do ano passado. Um livro sensível... bonito demais.

"Vou começar a tricotar a minha nova felicidade, eu me dizia, e é bem provável que eu recupere a boa vontade para com Norinha e enxergue nos atos e nas palavras dela mais cortesia e amor, as únicas coisas indispensáveis para viver."


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Conclusão



Que cerros mais altos,
vista mais calmante,
sítios mais benignos,
nuvens mais de sonho,
fontes mais pacíficas,
gente mais cordata,
bichos mais tranquilos,
noites mais sossego,
sempiternamente
vida mais redonda...
vida mais difícil.



sábado, 20 de fevereiro de 2016

Veríssimo



No motel

Uma vez imaginei como seria uma quarentena num motel. O motel é fechado por alguma razão. Justamente naquela hora - fim de tarde, numa sexta-feira - em que, em todo o mundo, a frequência nos motéis e mais alta. Ninguém pode entrar e, pior, ninguém pode sair.

- Como, não posso sair? O que eu vou dizer para a minha mulher?

Quarenta minutos de atraso para chegar em casa a gente explica, quatro horas a gente explica... Mas quarenta dias?!

- E eu que disse pro meu marido que eu só ia fazer os pés?

As cenas de desespero se repetem. Todos recorrem ao celular.

- Alô, meu bem? Olha, estou numa reunião importantíssima. Ninguém sabe quando vai terminar. Faz o seguinte: deixa comida pra mim na geladeira. Bastante comida.

- Alô, querido? Você não sabe o que me aconteceu. A mão da pedicure escapou e ela me cortou um dedo. Não, eu ainda tenho o dedo, mas o corte foi fundo. Tive que vir ao hospital e... Não, não adianta você vir pra cá. Só vou ficar mais um pouquinho porque ainda estou meio fraca.

A recomendação é que todos fiquem em seus quartos. O motel fornecerá refeições, todo o equipamento dos quartos, como a cama giratória. A luz negra e a banheira com centrífuga continuarão funcionando normalmente e a programação do circuito interno de TV continuará a mesma. Mas aos poucos as pessoas começam a sair dos seus quartos e perambular pelos corredores. Há encontros inesperados.

- Epa, você por aqui?

Todos se visitam e comentam a decoração dos quartos.

- O nosso não tem essa poltrona com vibrador...

E surgem os boatos.

- Sabem que está na suite 12?

Com o tempo se estabelece uma rotina. Reúnem-se na suíte Afrodite, a maior de todas, para bater papo e olhar a televisão. Sentem falta de um baralho, mas quem leva baralho para um motel?

- Meu bem? Olha, o hospital quer que eu fique mais um pouco. Para evitar a gangrena. O quê? Você está ouvindo gemidos?

Ela faz um gesto para alguém baixar o volume da televisão.

- Aqui é um hospital, né, amor? Só se ouvem gemidos.

No vigésimo dia uma comissão procura a gerência do motel para fazer uma reclamação. A TV interna não tem outros filmes, não? Ninguém aguenta mais o filme das lésbicas com o encanador, ou da loira e o garanhão.

- Não tem A noviça rebelde?



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Poema do Caio

Colocamos ontem na nossa página e coloco aqui. Incrível o quanto a gente lê um autor e folheando o livro pela enésima vez, descobrimos algo novo. 

Faz anos navego o incerto.
Não há roteiros nem portos.
Os mares são de enganos
e o prévio medo dos rochedos
nos prende em falsas calmarias.
As ilhas no horizonte, miragens verdes.
Eu não queria nada além de olhar estrelas
como quem nada sabe
para trocar palavras, quem sabe um toque
com o surdo camarote ao lado
mas tenho medo do navio fantasma
perdido em pontas sobre o tombadilho
dou face e forma a vultos embaçados.
A lua cheia diminui a cada dia.
Não há resposta.
Queria só um amigo
onde pudesse jogar o coração
como uma âncora.




terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O nome da cousa

Talvez um dia nos encontremos na rua e eu aceite a sua mão estendida e seu abraço caloroso. Talvez, então, você me mostre a foto do seu filho e eu comente que ele é lindo. Talvez, talvez, nos sentemos naquele boteco e possamos rir das nossas trepadas, e relembremos os velhos-bons-tempos-que-não-voltam-mais. Talvez eu chore um pouco de saudades daquela época e relembre o nome de todo mundo da turma, e possamos listar quem criou barriga, quem tem emprego público, quem come a cunhada, quem embichou. Talvez só as boas recordações me assaltem. Pode ser que, então, eu já tenha esquecido as dores, que as mágoas sejam só lembranças e que seu rosto não me assombre mais. Talvez eu já não chore mais debaixo do chuveiro. Talvez eu passe a mão pelo seu rosto e meus olhos sorriam e nós possamos nos despedir prometendo contato, trocando e-mails e jurando encontros familiares em breve.

Talvez, algum dia. Hoje, não. Hoje, eu quero que você vá pra puta que o pariu.


Porque hoje é o aniversário dela. Minha companheira de todo o dia. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sempre Grande Sertão

E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei - daí então acreditei. A pois, o que sempre não é assim?


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Novo vídeo

Tem vídeo desta pessoa aqui lendo Estrela Ruiz Leminski. 


A poesia está aqui. É só clicar.

E nossa página no Face, Paraísos de Papel.

Obrigada por continuarem aqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Arnaldo Antunes

Você que me continua.

se ando cheio me dilua
se estou no meio conclua
se perco o freio me obstrua
se me arruinei reconstrua

se sou um fruto me roa
se viro um muro me rua
se te machuco me doa
se sou futuro evolua

se eu não crescer me destrua
se obcecar me distraia
se me ganhar distribua
se me perder subtraia

se estou no céu me abençoe
se eu sou seu me possua
se dou um duro me sue
se sou tão puro polua

se sou voraz me sacie
se for demais atenue
se fico atrás assobie
se estou em paz tumultue

se eu agonio me alivie
se me entedio me dê rua
se te bloqueio desvie
se dou recheio usufrua.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Cartas

Eu falei deste livro de cartas do Caio hoje, para o nosso programinha, e aí comecei a reler algumas coisas. Não posso me deixar fazer isso. Quando vou ver, estou há tempos relendo um monte de coisa. 





Trecho inicial de uma carta escrita em São Paulo, 26 de março de 1985.

Marileeeeeeeeeeeeeeeeeeeeene,

Sinto-me à beira de receber uma carta thua, mas não consigo me controlar de tanta novidade, chê. Então me ponho a escrever, 15 para as quatro de um dia paranóide (Tancredo está hospitalizado nas Glínicas daqui, dizem que levou um tiro do segurança, meeedo total - mas isso é pano de fundo social), eu aqui sozinho, após a saída de Hilda, the slave.

Bueno, vamos lá. S'as que ontem, segunda, esta Marilene aqui QUASE MORREU QUEIMADA? Estava ela no fogão, mui lépida, assando umas coxas de franga, eis que senão que sente um odor estranho vindo das bandas do dito fogão. Ela estavam mui poeticamente, de costas para o fogão, observando aquela pêxa grávida no aquário, que não se decide a parir (vão ser arianos, os demônios, eu esperava pêxes de Pêxes, s'as?). Então me viro (observe a mudança espontânea & natural da tercêra para a primêra pessoa) e eis que, atrás do fogão, vejo CHAMAS ENORMES ATÉ QUASE O TETO. Joguei água, aí chamei o Sergião que telefonava da sala (Sergião disse: "Agora tenho que desligar porque minha casa tá pegando fogo", bem natural), e ele começou a me puxar pra fora da cozinha, ao gritos de "Vai explodir! Vai explodir! Não joga água que é pior!". Marilene, ousadíssima, queria avançar entre as chamas para DESLIGAR O FORNO (ela não tinha grana para comer e sua maior preocupação era que as coxas ficassem inutilizadas, isto é, carbonizadas). Bueno, corremos para o corredor do prédio. Duas velhinhas muito velhinhas saíam do elevador. Sergião: "Corram, saiam depressa que vai explodir tudo!". Uma das velhinhas começa a desmaiar. Junta gente na porta do prédio. Seu Antônio, o zelador, vem com um extintor de incêndio. Gritos, sussurros, gemidos, faniquitos. Fumaça, cheiro de gás, "apaguem os cigarros!". Marilene correu para seu quartinho e, num sopro, apagou a vela de sete dias, juro, & LABAREDAS CADA VEZ MAIS ALTAS. Bom, o extintor apagou tudo: espuma branca por toda a cozinha e toda a sala. E fim. Marilene foi espiar se a pêxa tinha abortado: raçuda, ela - continua grávida. Ai, a tremedeira. Que medo!

Obs: Respeitando todas as gracinhas gramaticais dele. É claro. 








quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Paraísos de Papel

A gente tem página no Face. Paraísos de Papel.

E agora temos canal no YouTube. Começando com esse vídeo aqui. Curtam a página e inscrevam-se no canal, meus queridos.

E eu? Continuarei por aqui.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Sempre ele

vezes sem conta tenho vontade
de que nada mude
meiavoltavolver
mudar é tudo que pude