sexta-feira, 17 de junho de 2016

Amós Oz e "Meu Michel"

O maior desejo de seu pai era que Michel se tornasse professor em Jerusalém, pois seu falecido avô, o pai de seu pai, fora professor de ciências naturais no Seminário Hebreu para Professores, em Grodno. Professor célebre. Seria bonito, na opinião do pai de Michel, se a corrente passasse de geração em geração.

Eu disse: "Família não é corrida de revezamento e profissão não é tocha."

Michel disse: "Mas eu não posso dizer isso a meu pai, que é um homem sensível e usa expressões hebraicas como antigamente se usavam serviços de frágil porcelana. Agora fale você de sua família."



sexta-feira, 10 de junho de 2016

Poesia do Caio



Ninguém saberá da secura de nossos olhos
da dureza de nossa boca ninguém saberá
do fio das unhas da dor no dente
do sangue guardado no fundo da gaveta

ninguém adivinhará os jardins atrás do muro fechado
ninguém quebrará o ferro do portão
ninguém violentará o secreto
ninguém te tocará profundamente
ninguém te saberá
ninguém.

Por isso olhamos as nuvens
sentados ao vento que não sopra
enquanto os balanços rangem
os rádios cantam
e a rua à nossa frente
é tão intocável como um quadro
pintado por outro.

Por isso olhamos em volta
e o que se passa além de nossa {palavra ileg.}
não nos soluciona
(ninguém sabe
ninguém saberá).

O caule quebrado do girassol
o livro de Toynbee sobre os degraus
a caneta riscando o papel
as nuvens
a tarde
a rua

o medo.

20 de dezembro de 1975