quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mark Twain


Trecho do texto sobre "fumo, alimentação e saúde aos 70 anos" (discurso dele de 1905).

"A partir dos 40 anos, nossas manias ficam permanentes. Elas vão se enraizando, se petrificando e a coisa então começa. A partir dos 40, mantive a hora de ir para a cama e me levantar - e esse é um detalhe importante. Transformei em lei só me deitar quando não houvesse mais ninguém com quem conversar e tornei regra só me levantar da cama quando fosse preciso. Isso criou uma inabalável regularidade da irregularidade. Foi o que me salvou, mas teria condenado outra pessoa."

Leiam este livro fantástico. Leiam Huckleberry. Leiam tudo deste homem.

domingo, 25 de novembro de 2012

Composição


"Quando perdi quase tudo,
descobri que a dor
não era maior que o sonho.
Quando esqueci o caminho,
vi que o horizonte
ficava do lado errado.
Quando só o meu rosto
sobrava em cada espelho
(e nada do lado de cá),
juntei desalento e desejo
e me reinventei
com carinho.

(Agora pareço comigo
antes de o amor ser
cancelado.)"

Que coisa bonita, né? Boa semana, amigos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Crônica e Nelson



Trecho inicial de "A viagem fantástica de Otto", publicada no "Correio da manhã" em 18 de maio de 1967.

"Já disse e aqui repito: o episódio da véspera é tão passado, e passado tão defunto como a vacina obrigatória. Faço esta ressalva para incluir, nestas Confissões, o meu almoço de ontem com Otto Lara Rezende. Tudo aconteceu, ali, num restaurante amigo da rua Santa Clara. Éramos cinco: - Otto, eu, meu filho Joffre, o Hélio Pellegrino e o Vinícius de Moraes.

Não era um Otto qualquer que estava diante de nós, mas um Otto recém-chegado. E aquele que chega é sempre um ser comovido e transcendente. Vinha ele da fabulosa Escandinávia: andara no Pólo, vejam vocês, no Pólo; passara três ou quatro dias em Paris. (Não falemos de Paris, que é um lugar-comum irrespirável.)

Como o Otto vivera uma experiência polar, nós o recebemos como se fora um Byrd, um Amundsen. Se ele saltasse de um trenó, puxado por uma dúzia de caninos brancos, não me admiraria nada. "

Que mesa de discussão... e que texto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Felizes para sempre


Trecho de crônica do Caio, publicada em "O Estado de São Paulo" no dia 30 de setembro de 1987:

"Os escritores são mestres em criar seus próprios infernos, só para descobrir formas de se ver livres deles. Em todas as esquinas desse labirinto infernal, Yann permanece ao lado de Marguerite, mão a mão. Continuam juntos?, me pergunto na noite tardia de sábado, ouvindo Thelonious Monk. De alguma forma, certamente sim, me respondo. Porque aprendi que esses amores capazes de superar o primeiro impulso que determina o próprio amor - a atração física - ah, esses amores não terminam nunca. (E nós, vivendo essa coisa tão assustada e média...)"

Pois é.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

The lover´s dictionary


Não adianta, uma capa linda de livro vai te chamar a atenção. Seja lá o que for. 

Este eu comprei domingo. Vi a capa, entendi que o autor vai construindo a história de um relacionamento com palavras em ordem alfabética. Não é uma palavra por letra, mas várias por letra até chegar em yearning, yell, yesterday e zenith. Vi as frases curtas e me apaixonei.  Li e é uma coisa muito bacana mesmo. Esta arte de escrever de forma simples me faz cair de amores na hora. 

E uma das palavras com "u" é ubiquitous (que quer dizer algo como "onipresente"):

"When it´s going well, the fact of it is everywhere. It´s there in the song that shuffles into your ears. It´s there in the book you´re reading. It´s there on the shelves of the store as you reach for a towel and forget about the towel. It´s there as you open the door. As you stare off on the subway,  it´s what you´re looking at. You wear it on the inside of your hat. It lines your pockets. It´s the temperature.

The hitch, of course, is that when it´s going badly, it´s in all the same places."

E vou dizer uma coisa chata mas que sempre digo - quem não lê em inglês, perde. E quem lê mais ou menos deveria tentar ler este livro. Vai conseguir.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Recusa


"Não entendo, não engulo este latim:
Perinde ac cadaver.
'Você tem que obedecer como um cadáver'.

Cadáver obedece?
Tanto vale morrer como viver?
Para isso nos chamam, nos modelam?

Bem faz Padre Filippo:
cansado de obedecer, vai dar o fora
para viver no mundo largo
a fascinante experiência de só receber ordens
do seu tumultuoso coração."


Sábio Padre Filippo.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Leminski, o sábio

"PRA QUE CARA FEIA?
NA VIDA
NINGUÉM PAGA MEIA."

Boa semana, amigos.

sábado, 10 de novembro de 2012

Ponto seco de agora


Parágrafo inicial do conto "Os sapatinhos vermelhos":

"Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina - ela repetiu olhando-se bem nos olhos, em frente ao espelho. Ou quando começa: certo susto na boca do estômago. Como o carrinho da montanha-russa, naquele momento lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois de subidas e descidas, em direção àquele insuportável ponto seco de agora."


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sonhei


Palavras da Fal, na página 289:

"Não, eu definitivamente não quero discutir a relação, analisar as variáveis, reavaliar as estratégias, sondar o terreno, pedir uma segunda opinião, deixar a massa adrede preparada, controlar danos, ajustar expectativas, listar dados, fechar poros, conter despesas, partir para o ataque, poupar o mensageiro, abraçar minha criança interior, adotar uma tecnologia, aparar arestas, ouvir o outro lado, traçar rotas de fuga, vivenciar papéis, transar aquele lance, esperar 5 minutinhos, rever os conceitos, justificar as escolhas, passar um cafezinho, dominar os jargões, mudar os paradigmas, agir estrategicamente, agregar valor, inicializar um processo, respeitar os limites, instalar o equipamento, tentar só mais um pouquinho, ser uma boa menina."

Nem eu.

Leiam este livro, gente.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Luis Fernando Veríssimo


Todo mundo tem que gostar do Veríssimo. Textos perfeitos. Não tem como dizer outra coisa. E morro de rir. Hoje li "Diálogos impossíveis" e fiquei rindo sozinha várias vezes. Minha crônica favorita do livro é a "Tem cada um..." que foi publicada no dia 31 de julho de 2011.

Olhem só este trecho:

"Tem por exemplo, o Victor, que não perde oportunidade de ostentar sua cultura, para divertimento e, às vezes, irritação da turma.

...

Mas a melhor do Victor quem contou foi o Mendonça, médico, que também frequentava a turma. O Victor andava tossindo muito e expectorando, e procurara o Mendonça no seu consultório.
- Acho que peguei a gripe.
- Você tem muito catarro? - perguntara o médico.
- Tenho.
- De que cor é o catarro?
E então Victor pensara um pouco e respondera:
- Sabe o verde daquele afresco do Tiepolo no Palazzo Clerici, em Milão?
O Victor estava presente na mesa quando o Dr. Mendonça contou o fato e apenas sorriu diante da gargalhada geral da turma. Depois deu de ombros e disse:
- O que eu vou fazer se vocês não viajam?"

Tem coisa melhor que isso?