quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Versos do prisioneiro (8)


Noturno sou,
mas sem noite.

A grade já não mais
me prende a morada:
a treva sou eu
o escuro morreu.

Eis o meu segredo:
todas as noites
me deito num livro
para em outra vida desaguar.

Rio escapando da margem,
margem escapando um rio.

Já quis riqueza.
Roubei,
aluguei a alma
alarguei tendões
para abarcar posses.

Agora,
meu ouro é a palavra.
Agora, a poesia
á a minha única visita de família.

E quando me notam,
noturno no canto mais escuro,
não dão conta
da minha silenciosa evasão
nem escutam
o tilintar das chaves em minha mão.

Presos, agora,
apenas os que não entram
em meu novo cárcere.


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