Quem me conhece sabe como sou com cheiros. Algo impressionante. Cheiros me trazem lembranças mil mas também enxaqueca. E li na seguinte crônica do Nelson Rodrigues:
"Que idade teria eu? Eis o que me pergunto - que idade teria eu? Um ano, um ano e pouco, sei lá. Ou menos, talvez menos. Minha família morava diante do mar. Mas o mar, antes de ser paisagem e som, antes de ser concha, antes de ser espuma - o mar foi cheiro. Há ainda um cavalo na minha infância profunda. Mas também o cavalo foi cheiro. Antes de ser uma figura plástica, elástica, com espuma nas ventas - o cavalo foi aroma como o mar."
Tanta coisa é cheiro.
Trecho de uma crônica publicada em 17/02/1967.
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