domingo, 17 de agosto de 2014

A desumanização

Sem dúvida, uma das melhores coisas que li na minha vida. Principalmente nos últimos tempos.


Nas páginas 41 e 42:

"Sobre a beleza o meu pai também explicava: só existe a beleza que se diz. Só existe a beleza se existir interlocutor. A beleza da lagoa é sempre alguém. Porque a beleza da lagoa só acontece porque a posso partilhar. Se não houver ninguém, nem a necessidade de encontrar a beleza existe nem a lagoa será bela. A beleza é sempre alguém, no sentido em que ela se concretiza apenas pela expectativa da reunião com o outro. Ele afirmava: o nome da lagoa é Halla, é Sigridur. Ainda que as palavras sejam débeis. As palavras são objetos magros incapazes de conter o mundo. Usamo-las por pura ilusão. Deixámo-nos iludir assim para não perecermos de imediato conscientes da impossibilidade de comunicar e, por isso, a impossibilidade da beleza. Todas as lagoas do mundo dependem de sermos ao menos dois. Para que um veja e o outro ouça. Sem um diálogo não há beleza e não há lagoa. A esperança na humanidade, talvez por ingénua convicção, está na crença de que o indivíduo a quem se pede que ouça o faça por confiança. É o que todos almejamos. Que acreditem em nós. Dizermos algo que se toma como verdadeiro porque o dizemos simplesmente."

2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

Sincronia? Boas vibrações? Semana passada coloquei este trecho na lousa para conversarmos a respeito da importância da palavra. A sala gostou muito! Viva a literatura... viva a leitura compartilhada com os amigos! Beijos...

Andréa disse...

Muita sincronia, meu bem! Um beijo! Viva!!!