sábado, 7 de fevereiro de 2015

Nada a temer

Recomendo sempre, sempre Julian Barnes ("O sentido de um fim" - um dos melhores livros dos últimos tempos). Aqui, um trecho de "Nada a temer"

"Eu poderia sair de casa mais cedo, morar no estrangeiro, ter filhos, não escrever livros, plantar bétulas, entrar para uma comunidade utópica, dormir com todas as pessoas erradas (ou, pelo menos, com pessoas erradas diferentes), tornar-me viciado em drogas, encontrar Deus, não fazer nada. Eu poderia descobrir formas inteiramente novas de me decepcionar.

Minha mãe me contou que vovô um dia disse a ela que a pior emoção da vida era o remorso. A que ele poderia estar se referindo?, perguntei-lhe. Ela disse que não fazia ideia, uma vez que seu pai tinha sido um homem da maior probidade (nenhum pufe perfurado, neste caso). E, portanto, esta observação - atípica do meu avô - paira no tempo sem resposta. Sinto muito pouco remorso, embora ele possa estar a caminho, e, enquanto isso, contento-me com seus amigos mais chegados: arrependimento, culpa, fracasso. Mas sinto uma curiosidade crescente pelas vidas não vividas, agora impossíveis de viver, e talvez o remorso esteja atualmente escondido em suas sombras."


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