Eu leio vários livros ao mesmo tempo (todo mundo, né?). E um deles é "Clarice Lispector - outros escritos". Há vários textos inéditos e um dos que mais me chamou a atenção foi "Traduzir procurando não trair" que ela fala sobre as questões da tradução, obviamente. Foi publicado na Revista "Jóia" em maio de 1968.
"O tradutor, professor de literatura portuguesa e brasileira numa universidade, fez um longo prefácio ao livro sobre literatura brasileira. Chegou à conclusão estranha de que eu era ainda mais difícil de traduzir que Guimarães Rosa, por causa de minha sintaxe. Não se assutem, nesta coluna esforço-me por não usar uma sintaxe que me é íntima e natural. Com um pouco de vergonha, já tinha esquecido o que quer dizer sintaxe. Perguntei a um amigo, que explicou: sintaxe é o modo como a frase se coloca dentro do período. Fiquei um pouco na mesma. E também desconfiada de que não podia se tratar apenas disso: uma palavra tão grave quanto sintaxe não podia significar simplesmente isso. Tenho o maior respeito por gramática, e pretendo nunca lidar conscientemente com ela. Em matéria de escrever certo, escrevo mais ou menos certo de ouvido, por intuição, poi o certo sempre soa melhor."
Um comentário:
Eu juro que não ia postar nada aqui como comentário, porque palavra nenhuma descreve Clarice.
Mas não pra deixar de dizer, e repetir, e repetir: Clarice é FODÁSTICA.
Sem mais.
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