"Escuta:
foram muitos os momentos
em que te pensei em mim
não sei se foram bons
maus infâncias temores
mas sei que foram.
Ninguém me tira
a certeza de ter te habitado.
Escuta:
não sei escrever poemas
quando estou dentro dum poema
vivo e sem palavras
mas se penso em te dizer
aqui agora assim
forço rimas formas talvez mortas
porque não me esquivo
Não compreendo nada.
Estou perdido neste apartamento desconhecido. Estou sozinho nesta sala com Villa-Lobos tocando, e pouco sei de mim, de ti. Escrevo para não sentir medo, ainda que não seja bom o que escrevo, ainda que não haja coerência no que sou agora. Não me importa a coerência. Falo um poema em voz alta, apenas para ouvir minha voz. Mas no meio do poema descubro verdades que eu te diria."
1970
De: "Poesias nunca publicadas de Caio Fernando Abreu". Página 33.
Obs - para mim Caio é o cronista do dia a dia. O cronista de jornal que tanta falta faz. Sempre foi. E ele tem algumas poesias. Não é meu poeta favorito. Mas volto à questão de sempre - se adoro um autor e ele já morreu, leio tudo. E se alguma coisa perdida é encontrada depois da morte (como este livro do Caio publicado em 2012), eu corro atrás. Tomara que achem um livro de poemas do Nelson Rodrigues, do Mark Twain, ou uma meia-dúzia de romances do Walt Whitman.
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