terça-feira, 2 de setembro de 2014

A era do ressentimento




Leiam este livro pra gente parar com o mimimi. Pra sempre. Não tem coisa mais chata, sério. Como diz o Pondé, daqui uns anos nossos tempos não serão conhecidos como o do ipad, iphone ou sei lá mais o quê. Mas sim, como "a era do ressentimento". Vejam só:



"É comum nos referirmos às pessoas como coitadas porque têm de enfrentar a vida. Algo que, antes, era considerado óbvio - a vida não tem garantias -, hoje se tornou um erro cósmico. Esse equívoco se evidencia de forma mais gritante no olhar que muita gente tem sobre as contingências da vida social e econômica. 

Criticamos o mundo como se ele fosse responsável por sobrevivermos ou não. Em casos como esses é que o ressentimento se torna mais evidente: a sociedade e as pessoas devem ser responsabilizadas por escolhas individuais. Se me endivido, a culpa é do banco. Se não tenho emprego, a culpa é da sociedade que me obrigada a trabalhar. A questão é: quem foi o desgraçado que inventou essa história de que devemos amadurecer e enfrentar o fato de que não há garantias para nada? Por que esses ressentidos acham que a sociedade deve nos dar tudo e com isso fazer de nós uns retardados mentais em termos de moral? 

A necessidade de que a vida seja garantida atinge níveis metafísicos desde sempre: este é o núcleo de nosso desejo metafísico religioso, a saber, que algo ou alguém garanta nossa sobrevida, mesmo depois da morte. Morto Deus (pelo menos tendo Ele concorrentes mais próximos, como a vida secular, científica e racionalizada), essa forma de ressentimento se escondeu nas camadas mais medíocres da existência: assumiu a forma de uma petição contínua para que eu seja uma eterna criança a ser cuidada. 

Se Freud dizia que amadurecer é aceitar uma orfandade, o amadurecimento passou a ser considerado um modo de opressão. Coitados de todos nós, que somos obrigados a suportar essa ladainha daqueles que não conseguem compreender o que, desde a tragédia grega, se sabe: a vida nunca teve garantias. Também não acho isso agradável, mas, talvez como pensava o escocês Adam Smith, a autonomia seja a escolha moral possível diante do simples aniquilamento de nossa heroica humanidade abandonada na face da Terra."

É isso.

2 comentários:

Fal disse...

é isso. é isso. é isso.

Elaine Cuencas disse...

"Também não acho isso agradável, mas, talvez como pensava o escocês Adam Smith, a autonomia seja a escolha moral possível diante do simples aniquilamento de nossa heroica humanidade abandonada na face da Terra."...