A maioria dos meus livros ainda permanece nas caixas mas hoje não resisti e abri uma delas. E peguei "A vaca e o hipogrifo" de Mário Quintana. Acho que a semana merece acabar com isto:
"Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...
a saber:
o silêncio dos velhos corredores
uma esquina
uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
o primeiro olhar daquela primeira namorada
que ainda ilumina, ó alma,
como uma tênue luz de lamparina,
a tua câmara de horrores.
E os grilos?
Não estão ouvindo, lá fora, os grilos?
Sim, os grilos...
Os grilos são os poetas mortos.
Entrego-lhe grilos aos milhões um lápis verde um retrato
amarelecido um velho ovo de costura os teus pecados
as reivindicações, as explicações - menos
o dar de ombros e os risos contidos
mas
todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger de dentes
as alegrias agudas até o grito
a dança dos ossos...
Pois bem,
às vezes
de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que
parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que
tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse
gosto de nunca e de sempre."
É pra ler. E pra chorar.
4 comentários:
Como diz você... "coisa linda", não é? Gosto tanto de " o silêncio dos velhos corredores", talvez porque passei por eles uma ou duas vezes, sempre imaginando quantas outras pessoas passaram por ali... Um hotel em Belo Horizonte, o - agora não mais - decadente Hotel Avenida em Águas de São Pedro, aquele hotel de segunda em Campinas. É poesia, mas só um Mário Quintana consegue faz isso como se deve. Lua, grilo, lamparina, lápis verde. Tudo matéria poética! Obrigada Quintana, obrigada Andréa.
bjs,
Obrigada você por sempre estar aqui....
Dé, sempre bom ler o que te agrega, porque sempre agrega!
Beijo!
Dé, sempre bom ler o que te agrega, porque você sempre agrega!
Beijo!
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