domingo, 19 de abril de 2015

Caio



Primeira parte de "Breve Memória"

1. Muitos mares andei. Outros pensei.
E nos pensares muito mais vivi
que nos andares
pausados, estes. Compassados.
Lentos de agonia e de quebranto
numa rota de fogo
estilhaçada

Se idílios tive, nem no corpo
houve um mistério de luz
uma alvorada
uma avenca crivada de rubro
e de certeza. Não.
Não tive.

Mas nos voos mais abertos
me encantei. E um roteiro
de encontro, a mão calada,
uma face presente, perto à minha,
certa paz
certa riqueza
certa força - alada - em sonho tive.

De marcas não foi feito meu andar.
Nem de levezas.
Porque se andei
(lento
descompassado)
um voo desvairado de esperanças
transportava meu corpo,
meus pisares.

Alguns marquei. Outros marcaram.
Porém o passo nunca teve abrigo.
Albergue nunca fui. Nem me fizeram.
E se em voos tive a face amada
em corpo fui pobreza
em corpo fui silêncio e nada:
um amado de ausência eu acalento.




2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

Nossa... os últimos versos são lindos e doloridos... um aperto no coração!

...se em voos tive a face amada
em corpo fui pobreza
em corpo fui silêncio e nada:
um amado de ausência eu acalento.

Voos...

Um beijo!

Andréa disse...

Elaine,
Achei todo o poema dolorido.. e lindo!
Beijo!