sábado, 11 de abril de 2015

Poeminha maçante / Por que não ser também um chato?

Sempre sofri
O ataque inesperado
Do primo chato,
Do amigo chato,
Do chato ocasional
Que nem espera ser apresentado.

E queria saber como
(Na certa querendo ser simpático)
Teria ele chegado à solidão
Da chatidão.

Mas de repente percebi
Sem ser doutor
Que a chatice é a única doença
Que não dói no portador
E resolvi ser chato.

Desfaço agora com o máximo desdém
De quem ter e de quem não tem.
Sei ser blasé diante da maior obra de arte
E no teatro, ao começar a interpretação,
Eu, zás!,
Me viro de costas para comentá-la
Com o sujeito de trás.

Falo alto na igreja
E baixinho diante dos que ouvem mal
Bocejo de tédio quando alguém me olha
E me visto sempre de maneira imprópria
Para a ocasião.

Quando me falam de livro
Respondo - "E as mulheres, como vão?"

Nunca ouço o que me dizem
Falo sempre de mim mesmo
Não respeito compromissos
E troco nomes a esmo.

Ah, ser chato é muito diferente
De suportar um chato
Suportar é quase doloroso
Mas sê-lo
É delicioso!

E o que é melhor, amigo,
Todos os chatos
Evitam tratar comigo.

03 de outubro de 1960.













2 comentários:

Fal, a Mau disse...

Ele era um craque e você é craque também. <3

Elaine Cuencas disse...

Chatos do mundo, uni-vos!