sábado, 21 de maio de 2016

Bom dia para nascer

Trecho de crônica de 18 de agosto de 1991

Desamarraram o bode

Nada como um dia após o outro. Enfim começaram a tirar o bode de nosso casebre, ainda que aos poucos, em suaves prestações mensais. Ando com uma inclinação zoológica, que nada tem a ver com o modismo ecológico. Tampouco é aborrecimento com a natureza humana. Sou um temperamento indulgente, talvez porque precise de indulgência. De misericórdia, sim. A ser rigoroso, procuro ser comigo mesmo. Como lá dizia o outro, moral para vigiar, basta a minha. O que já me dá muito trabalho e pouco sucesso.

O bicho do dia para mim é o bode. Não o expiatório, que purga a culpa de todos. Mas sim aquele bode da anedota judaica. O pobre-diabo foi se queixar ao rabino. Morava numa lata de sardinha apertada e sem conforto. Pior do que buraco de favela. Só não era pior do que quarto de empregada doméstica em apartamento novinho em folha. E tinha a obrigação debaixo do mesmo teto. Filha, filho, afilhado, até sogra. Vocês sabem: o rabino mandou botar um bode no cubículo.

Passado um mês, tirasse o bode e veria o conforto se instalar em casa. Bode tem vários sentidos. 


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