Mike Maguí
O Paulo e a Dé tinham convidado a Lana e o Antônio para jantarem na casa deles e depois assistirem ao que o Paulo chamara de "um pornozinho" no videocassete. O Antônio foi contrafeito, embora a Lana não visse nada de mal.
- Não vejo nada de mal, ué.
- Pô, Lã!
- Qual é o problema?
- Sei lá - dissera o Antônio, que não queria estragar o prazer de ninguém, mas puxa!
Mal conheciam o Paulo e a Dé. Acabara concordando mas com uma condição.
- Se for alguma coisa com anão e cabrito, eu levanto e vou embora!
Quando colocou o cassete no aparelho o Paulo piscou um olho e disse: "Este é com o Mike Maguí".
- Ah, o Mike Maguí - disse o Antônio, como se soubesse quem era.
- Ele é bom, é? - quis saber a Lana.
- Espera só - disse o Paulo.
E a Dé reforçou:
- Espera só.
No carro, voltando para casa, a Lana estava silenciosa. O Antônio já falara mal da comida ("Strogonoff, com esse calor), falara mal do Paulo ("Recorta artigo do Delfim, você viu?"), falara mal até do cachorro ("Antipático"), e a Lana nada, pensativa. Finalmente o Antônio disse:
- E o Mike Maguí, hein?
E a Lana:
- Que coisa, né?
O Antônio olhou para a mulher com o rabo de olho.
- Você sabe que aquilo pode ser truque, não sabe?
- Como, truque?
- Truque. Maquiagem. De borracha.
- Acho que não era não.
- E o cara é um imbecil. Vamos e venhamos. Tem cara de abobado. Você não achou??
- Até que não.
- Por amor de Deus, Lã. Já imaginou um cara desses... um cara desses...
- O quê?
O Antônio procurava o que dizer. Finalmente disse:
- Lendo Rilke?
A Lana fez um ruído de desdém.
- Não sei o que ler Rilke adiantou para certas pessoas...
Eu sabia que nós não deveríamos ter ido, pensou o Antônio.
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