Antes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu:
- Me faz um favor?
- O quê?
- Você não vai ficar chateado?
- O que é?
- Não fala tão certo?
- Como assim?
- Você fala certo demais. Fica esquisito.
- Por quê?
- É que a turma repara. Sei lá, parece...
- Soberba?
- Olha aí, "soberba". Se você falar "soberba" ninguém vai saber o que é. Não fala "soberba". Nem "todavia". Nem "outrossim". E cuidado com os pronomes?
- Os pronomes? Não posso usá-los corretamente?
- Está vendo? Usar eles! Usar eles!
O Carlinhos ficou tão confuso que, junto com a turma, não falou nem certo nem errado. Não falou nada. Até que comentaram:
- Ô, Carol, teu namorado é mudo?
Ele ia dizer "Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado", mas se conteve a tempo. Depois, quando estavam sozinhos, a Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava.
- Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos.
Aquela voz de cobertura de caramelo.
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