sexta-feira, 19 de junho de 2009

Manuel Bandeira (1886-1968)



Vamos parar com essa coisa nervosinha da minha parte e voltar, né? As coisas (aparentemente) estão entrando nos eixos neste final de semestre.

Hoje entrei numa livraria/papelaria aqui perto e reparei naquela coleção da L&PM Pocket... tenho vários, mas me dei conta que em casa não há NENHUM livro do Manuel Bandeira. Falha terrível né, Dona Andréa? Mas cá estou eu me redimindo com Poética:


"Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações de apreço
[ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no
[dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
[de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
[amante exemplar com cem modelos
[de cartas e diferentes maneiras
[de agradar às mulheres, etc.

Quero o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."


Nem eu.

2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

la vai..mais um!

Testamento - Manuel Bandeira
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
(29 de janeiro de 1943)

Poesia extraída do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.

Anônimo disse...

Sempre, desde de menino ao menos, conhecia mas nunca tinha lido o nosso caro "Mané"; Hoje, olha só que ironia: ADOREI[tanto o do post como o da Dona Elaine Cuencas-quem anda em dívida comigo].

Última semana vindo pra aula.
Beijos e boas férias aos leitores deste humilde bloguinho....

BRUNO SOARES DE OLIVEIRA