domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fim de fevereiro

Última parte do poema "Sexta-feira da paixão" de Ana Cristina César:

"Olhos desencontrados: e se eu te disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair
do esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: esta compaixão é
é paixão."

Que março não seja um mês de aflição não. Que seja só de coisas boas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Veneno Antimonotonia



Comprei este livro no domingo e algumas coisas foram descobertas, outras nenhum encanto. Mas é sempre bom ler alguns trechos de letras de música, poetas famosos que não conheço nada a respeito e as coisas boas de sempre.

Duas últimas estrofes de VERÃO de Ferreira Gullar:


"Sim, fevereiro resiste
como um fera ferida.
É essa esperança doida
que é o próprio nome da vida.


Vai morrer, não quer morrer.
Se apega a tudo que existe:

na areia, no mar, na relva,
no meu coração - resiste".


Boa quinta chuvosa queridos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Segunda com humor

Toda semana ando comprando livro. Gente. Onde isso vai parar? Hahaha. Não aguento não comprar. Sabem como é? Pois então. Ontem comprei dois de poesia. Duas compilações de poetas brasileiros. Depois coloco aos poucos. E também estou lendo "Everything you know" da Zoe Heller, e o essencial do Caio da década de 90. E vamos começar a semana com um pouco do humor dele mesmo, numa carta a um amigo de 02 de novembro de 1990:

"Agora ando mais calmo. Não muito, verdade. Mas desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosam aos 40 anos, tenho me divertido como nunca. Ai, que maravilha arrebentar o mito do Amor Eterno! Me associei ao Zé Simão na campanha "sem medo de ser biscate", e assim vou indo, até que algum Richard Burton resolva me dar um diamante do tamanho do Ritz (o hotel, não o bar, please). Pouco provável"

Caio Fernando Abreu. O essencial da década de 1990. Página 196.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Grande Sertão



Página 155 do meu livro. Edição de 1986. Todo bem cuidadinho. Anotado com minha letra da faculdade (de 1994, no caso). Ai como eu era CDF. E que delícia foi.

"Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase: e os todos sacrifícios. Ou - amigo - é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, o Sesfredo. Ele não quis me escutar. Voltei da raiva.

Digo ao senhor: nem em Diadorim mesmo eu não firmava o pensar. Naqueles dias, então, eu não gostava dele? Em pardo. Gostava e não gostava. Sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. Mas a natureza da gente é muito segundas e sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor"


Boa semana, queridos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

"Também era bom que não viesse tantas vezes quanto queria: porque ela poderia se habituar à felicidade. Sim, porque em estado de graça se era muito feliz. E habituar-se à felicidade, seria um perigo social. Ficaríamos mais egoístas, porque as pessoas felizes o eram, menos sensíveis à dor humana, não sentiríamos a necessidade de procurar ajudar os que precisavam - tudo por termos na graça a compreensão e o resumo da vida"

Página 136. Clarice.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Samba do Veloso (Tempo de amor)



De Vinícius e Baden:
Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz

Sem ter que sofrer

Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar

Mas tem que sofrer

Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar

Ah, mundo enganador
Paz não quer
Mais dizer adeus

Ah, não existe
Coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais


O tempo de amor

É tempo de dor

O tempo de paz
Não faz nem desfaz

Ah, que não seja meu

O mundo onde o amor morreu

Obs - pela primeira vez coloquei uma foto minha aqui e no msn. Um passageiro querido que tirou antes de embarcarmos de volta pra SP nessa última viagem. Eu - acabada. Mas gostei. Mudar um pouco faz bem.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mais



Aí acabei a Correspondência Incompleta da Ana Cristina César. Só falta ler um livro dela. Quase comprei na semana passada mas acabei não comprando porque acho que significaria "é o último, e agora acabou porque a moça morreu". Entendem?

E hoje fiz algumas arrumações em casa e fui escolher qual pedaço de qual carta ia colocar. Então:

"Tenho gavetas-surpresa. Volta e meia vou lá, abro uma e tiro meu passado. Cartas, fotografias, postais, bilhetinhos, passagens de trem, carteirinhas de colégio, desenhos...Enfim toda essa parafernália aguda que todo mundo deve ter"

Carta de 5/12/76. página 241.

Obs - Paula, seja bem-vinda.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Whitman is back



O último post sobre Whitman foi no meu aniversário. Agora ele volta.

"Here the Frailest Leaves of Me

Here the frailest leaves of me and yet my strongest lasting
,
Here I shade and hide my thoughts, I myself do not expose them,
And yet they expose me more than all my other poems"

Ele esconde os pensamentos, mas eles estão lá mais expostos que qualquer poema.

E bom carnaval a todos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Oi?

Gente, eu JU-RA-VA que já tinha colocado este texto aqui, mas de acordo com a organização deste blog e com as minhas observações na primeira página do livro - acho que não. (mas se alguém achar, avisa). Coisas da minha cabeça.

"surpreenda-me amigo oculto
diga-me que a literatura
diga-me que teu olhar
tão terno
diga-me que neste borburinho
me desejas mais que outro
diga-me uma palavra única"

Surpresas me matam.

Ana Cristina César. Inéditos e Dispersos. página 32.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Alma



"Quando o corpo está exposto à estreiteza, e quando está consciente de que seu desconforto provém dela, surge então a possibilidade de acampar em frente ao mar. A partir desse lugar de impropriedade e angústia, olhamos o horizonte. Chegar até ele não mais será um processo do corpo, mas da alma. Há uma entrega, um despojamento nessa margem, que não só desnuda o corpo mas também o modifica. Essa metamorfose nos assusta com a possibilidade de estarmos abrindo mão de nossa integridade e identidade."


Nilton Bonder. A alma Imoral. página 52.
Foto da atriz Clarice Niskier na peça.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Caio e fila



Minha mente capricorniana não permite desordem em alguns aspectos. Comprei na outra semana o "Caio 3D - o essencial da década de 1990" mas ainda não comecei porque há outros na fila antes. Entendem a questão? Sempre tenho um de ficção e outro de cartas, por exemplo. Aí quando um acaba vem outro no lugar e assim sucessivamente. E de poesias? Entra no meio. Entendem?

Adoro este tipo de diálogo:

"EU - Você gosta de mar?
ELA - Gosto. Parece uma coisa que eu sinto às vezes por dentro e nem sei bem como é. Nem o que é. Acho que se um dia eu me matasse seria no mar. Queria ir entrando na água bem devagarinho, vestida de branco, descalça, cabelos soltos.
EU - Poesia fácil.
ELA - Vá à merda."

Caio 3D - O essencial da década de 1970. Página 99.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

300

Essa é a postagem número 300. Ia colocar Whitman, mas ando um pouco distante dele. Aquelas coisas. Já já volto.

Aí vamos com Leminski, porque ele sempre está perto:

MAIS OU MENOS EM PONTO

"Condenado a ser exato,
quem dera poder ser vago,
fogo fátuo sobre um lago,
ludibriando igualmente
quem voa, quem nada, quem mente,
mosquito, sapo, serpente.

Condenado a ser exato
por um tempo escasso,
um tempo sem tempo
como se fosse o espaço,
exato me surpreendo,
losango, metro, compaso,
o que não quero, querendo"

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Haicai para a ocasião



"a bitter rain-
two silences
beneath
the one umbrella"

de Geoffrey Daniel

Algo mais ou menos assim:

"uma chuva amarga
2 silêncios
debaixo
de um guarda-chuva"

Ia colocar uma foto de uma chuva triste ou amarga. Aí resolvi colocar a de uma chuva feliz. Pra gente tentar fazer com que a chuva não seja tão chata. Aí coloquei a famosa mesmo. Com Gene Kelly.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais "Alma"

"Existem duas formas de honrar naturezas que valem para todos os seres vivos mas que para o ser humano se fazem conscientes. A diferença humana é estar consciente não apenas de seu corpo mas de sua alma, de suas leis e de suas desobediências. É possível obedecer e desrespeitar e também desobedecer e respeitar. Estas duas possibilidades, na consciência humana, permitem a concepção da alma. Pois é a alma que identifica, para além dos interesses do corpo, tanto as desobediências que respeitam como as obediências que desrespeitam."

Nilton Bonder. A Alma Imoral. página 23.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Segunda

longe hoje
você me quer pra ontem
e só vem amanhã

Alice Ruiz. dois em um. p. 53