folhas soltas, cadernos, livros, montões inexplicáveis, e cada
vez que lhes toco fica tudo mais caótico e não
descubro nada,
às vezes procuro apenas uma palavra que algures na desordem estava certa,
nos âmagos e umbigos da alma:
brilhava,
uma vez encontrei um relâmpago, e quase morri de
assombro,
quase via alguma coisa nos jardins de outro mundo,
quase via o fogo que nascia,
quase irrompeu um poema quase sem uma palavra errada,
quase me tocaram,
quase nasci ali mesmo nesse ápice da terra inteira,
quase que a mão esquerda se moveu dentro da desordem,
quase tinha pegado fogo mas já estava fora,
quase todo eu era matéria-prima,
mas de repente não,
de repente as coisas colocadas regressavam
e entre elas, dentro, sentado, eu apenas escrevia isto,
caótico como antes era:
livros, folhas soltas, cadernos, etc.,
este pequeno poema que deixava tudo revôlto como dantes
era,
e eu não tocava em nada e nada me tocara,
e nada se tocara entre si,
e eu morria aos poucos como era costume na época
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