quarta-feira, 1 de julho de 2015

Carta dispersa à beira de um não-ser



Trecho do poema do Caio:


Amigo,
escuta bem porque calar não calo,
porque até o fim me cumprirei no que consome,
escuta bem, te peço claramente:
essas noites de roxo e de procura,
essa sede nas mãos, tão disfarçada,
esse ácido que, bem sei, te esmaga
como a mim próprio dissolve e mata
(não, não há remédio contra sermos sós)
- é tudo tão duro amigo, amado,
e não compreendem o meu querer calado e pouco:
não mais que isso - um fundo canto
e a mão de qualquer amigo perdida dentro da minha.
(Um anjo negro de desvairadas órbitas
atrás da minha andança descompassada: ah
te daria tanto se querer quisesses.)






Um comentário:

Fal disse...

Que coisa maravilhosa, que linha. As escolhas, as imagens. Que baita escritor, que falta que ele faz, como falamos há pouco. Obrigada, meu bem.