segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Como curar um fanático

Texto originalmente apresentado (como discurso) na Alemanha em 2002, editado para a publicação do livro neste ano.



Se eu apenas pudesse comprimir um senso de humor em cápsulas e persuadir populações inteiras a engolir minhas pílulas de humor, assim imunizando todo mundo contra o fanatismo, eu poderia me candidatar um dia ao prêmio Nobel de medicina, não de literatura. Mas prestem atenção! A ideia de comprimir senso de humor em cápsulas e a noção de fazer outras pessoas engolirem minhas pílulas de humor para seu próprio bem, com isso curando-as de seu problema, já está ligeiramente contaminada pelo fanatismo. Sejam muito cuidadosos, fanatismo é fácil de pegar, é mais contagioso que qualquer vírus. Pode-se facilmente contrair fanatismo quando se está tentando vencê-lo ou combatê-lo. Basta ler um jornal ou assistir ao noticiário na televisão para ver quão facilmente as pessoas pode se tornar fanáticas antifanáticas, zelotes antifundamentalistas, cruzadas do antijihadismo. Por fim, se não conseguirmos vencer o fanatismo, talvez possamos ao menos contê-lo um pouco. Como eu disse, a capacidade de rir de nós mesmos é uma cura parcial, a capacidade de nos vermos como os outros nos veem é outro remédio. A capacidade de existir em situações em aberto, aprender a desfrutar da diversidade, também pode ajudar. Não estou pregando um relativismo moral total, certamente não. Estou tentando desenvolver a necessidade de cada um imaginar o outro. Divagar em relação ao outro quando brigamos, fantasiar sobre o outro quando reclamamos, imaginar o outro exatamente no momento em que achamos que estamos 100% certos. Mesmo quando se está 100% certo e o outro 100% errado, ainda é proveitoso pensar sobre o assunto.


Um comentário:

Elaine Cuencas disse...

"Estou tentando desenvolver a necessidade de cada um imaginar o outro".

Amar ao próximo como a si mesmo...

Tirando os sapatos: O caminho de Abraão, um caminho para o outro


Muitas lições, muitos professores... a diversidade da sala de aula e seus alunos resistentes!

Vamos, por aqui, mandando ver as palavras que lemos... com um certo fanatismo!