quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Mais - Ainda estou aqui



Scott Fitzgerald dizia que não há segundo ato na vida dos americanos. Então começou o quarto ato da vida da minha mãe. O mais injusto, o mais cruel, definitivo, que deu densidade à sua tragédia.

Até então, acreditava-se que a memória era compartimentalizada num reservatório, numa parte do cérebro, que os pensamentos a elaboravam, a interpretavam e a engavetavam por lá. Sabemos agora que não. Ela não fica armazenada em uma seção exclusiva, mas espalhada pelo cérebro todo, vive em sinais e impulsos eletromagnéticos. As lembranças se movem pelo cérebro. Não à deriva, pois a qualquer momento neurônios constroem milhões de novas conexões e as resgatam. O circuito neurológico se modifica a cada segundo. Somos diferentes em cada instante que vivemos. Temos um cérebro diferente a cada segundo. E quando lembramos algo, as conexões mudam fisicamente a memória do lugar. 


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