Primeira estrofe
"à noite
fantasmas das coisas não ditas
sombras das coisas não feitas
vêm
pé ante pé
mexer em seus sonhos"
Paulo Leminki. Caprichos e Relaxos. Página 93.
Tudo de bom que já foi dito sobre Walt Whitman e sua obra "Folhas da Relva" eu concordo. Por isso o nome deste humilde bloguinho que fala sobre literatura é uma homenagem ao grande poeta que, como disse Borges: "toma e não diz a ninguém a infinita decisão de ser todos os homens e escrever um livro que seja todos".
quinta-feira, 29 de abril de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Toni Morrison e "Love"
Love é de 2003 e já foi traduzido. Acho que talvez este livro seja um dos mais complexos da Toni Morrison e com a divisão dos capítulos mais coerentes que já vi. Quando dei aula num curso de pós-graduação uma vez, eu pedi para os alunos lerem. Foi super difícil. Mas recomendo muito, muito. Eu já desisti da leitura do último livro dela (A mercy). Ficou meses do lado da minha cama e eu coloquei na prateleira dos lidos já. Quem sabe um dia volto.
"In unlit places without streetlamps or yelping neon, night is profound and often comes as ease. Relief from looking out for and away from. Thieves need the night in order to be furtive, but can´t enjoy it. Mothers wait for it yet are braced all through their sleeping. The main ingredient offered by the night is escape from watching and watchers. Like stars free to make their own history and not care about another one; or like diamons unburdened, released into handsome rock".
Da minha edição do "Love", página 194.
Não se enganem com a capa meiga e fofa. É só a capa mesmo.
domingo, 25 de abril de 2010
Cartas
Acabei o livro de cartas do Caio. Gostei da maneira que foi organizado pois primeiro estão as cartas de 1980 até 1996 (ano em que ele morreu). Aí como está no meio do livro, você não acha que a coisa acabou assim. Então há as cartas entre 1965 e 1979. Pra variar aquela sensação de querer ler cartas dele sempre. Mas impossível. Acho que agora já li tudo que foi publicado.
Trecho da carta para Vera Antoun, de 04 de janeiro de 1973:
"Não quero nunca me perder de você, nem preciso dizer isso porque você sabe que um Virgem e um Touro não se perdem mesmo - é astralmente impossível. Portanto, mesmo que você cometa a vileza de me deixar sem resposta, num outro de repente a gente se encontra numa esquina, numa praia, num outro planeta, no meio duma festa ou duma fossa, no meio dum encontro, a gente se encontra, tenho certeza."
E ele estudava muito e entendia tudo de Astrologia. Aí respeito mais.
sábado, 24 de abril de 2010
Alma
"Ousaria dizer que tudo que é positivo para a vida é o que não se dissimula. O interesse do corpo que se dissimula em interesse da alma e o interesse da alma que se dissimula em interesse do corpo - eis aí o que é negativo para a vida."
Nilton Bonder. A Alma Imoral. Página 22.
Nilton Bonder. A Alma Imoral. Página 22.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
imagino
"imagino como seria te amar
teria o gosto estranho das palavras
que brincamos
e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras
imagino como seria te amar:
desisto da idéia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
poemas."
Ana Cristina César. Inéditos e Dispersos. Página 90.
teria o gosto estranho das palavras
que brincamos
e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras
imagino como seria te amar:
desisto da idéia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
poemas."
Ana Cristina César. Inéditos e Dispersos. Página 90.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Boa semana
E pra gente aprender:
nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima
Leminski. Caprichos e Relaxos. Página 115.
nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima
Leminski. Caprichos e Relaxos. Página 115.
sábado, 17 de abril de 2010
Renato
Já falei de Bethânia, Elton John e do Freddie Mercury. Mas nunca falei do Renato Russo. Ouvi na rádio e vi na TV algumas comemorações pelos 50 anos que faria se estivesse vivo. Não quis ver nada. Sabe como é, né? Não tenho vontade de ver essas homenagens porque só me dá vontade de chorar. Eu ADORAVA o Renato Russo. E lembro do dia que ele morreu perfeitamente. Amo, principalmente, este cd que coloquei aqui. Ele cantando em inglês? Lindo. E as músicas? Bob Dylan, e Madonna e aquela linda da Cor Púrpura e aquela do cara do Eagles (Don Henley).
Nunca ouviram? Por favor, ouçam "The heart of the matter" já. Um trechinho:
I've been learning to live without you now
But I miss you sometimes
The more I know, the less I understand
All the things I thought I´d figured out, I have to learn again
I've been tryin' to get down to the Heart of the Matter
But everything changes
And my thoughts seem to scatter
AndI think it's about forgiveness
Forgiveness
Even if, even if you don't love me anymore
But I miss you sometimes
The more I know, the less I understand
All the things I thought I´d figured out, I have to learn again
I've been tryin' to get down to the Heart of the Matter
But everything changes
And my thoughts seem to scatter
AndI think it's about forgiveness
Forgiveness
Even if, even if you don't love me anymore
Que sábado delícia, né? Pois é. Ainda bem. Sei que a música é triste para uma colocação dessas. Mas músicas tristes também nos deixam felizes. Pelo menos eu fico. Tá bom. Nem sempre.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Anne Sexton
Última parte do poema "The children"
Listen.
We must all stop dying in the little ways,
in the craters of hate,
in the potholes of indifference -
a murder in the temple.
The place I live in
is a kind of maze
and I keep seeking
the exit or the home.
Yes if I could listen
to the bulldog courage of those children
and turn inward into the plague of my soul
with more eyes than the stars
I could melt the darkness -
as suddenly as that time
when an awful headache goes away
or someone puts out the fire -
and stop the darkness and its amputations
and find the real McCoy
in the private holiness
of my hand.
A expressão "the real McCoy" quer dizer a coisa real, a coisa verdadeira.
Não é lindo?
terça-feira, 13 de abril de 2010
Leminski +
Eu AMO este poeminha. O porquê dele não ter aparecido aqui antes é um total mistério para mim. Lentinha is my name.
Quanta coisa carregamos, não? Nem falem. Cruzes.
Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um saara de páginas,
Essa infinita madrugada.
Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse, eu mesmo carrego.
Três paixões mal curadas,
Um saara de páginas,
Essa infinita madrugada.
Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse, eu mesmo carrego.
Quanta coisa carregamos, não? Nem falem. Cruzes.
domingo, 11 de abril de 2010
Um amor que é só meu
De Vinícius e Fagner
"Amiga
Nem sei como lhe diga
Essa ternura antiga
De repente doeu
Perdoe
Eu sei que não devia
Mas da noite para o dia
O amor aconteceu
E embora doa
De uma dor dilacerante
É um amor tão amante
Tão sozinho se deu, sou eu
Quem sabe
Que mesmo contra tudo
Que forçado a ser mudo
Foi o amor que nasceu
E me deu tanto
Fez as coisas tão mais belas
Abriu tantas janelas
Tudo reverdeceu, e eu
Amiga
Lhe sou tão obrigado
Mas não tenha cuidado (mas não há de ser nada)
É um amor que é só meu"
Livro de Letras. Página 200.
E bom domingo... e boa semana....
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Dorothy Parker
Acho que só falei duas vezes sobre Dorothy Parker aqui. Pelo menos é o que dizem as marcações aqui ao lado. Tenho um livro LINDO com as obras dela mas estava na prateleira de cima meio esquecido... sabem como é, né? Pois então. Peguei o coitado esquecido de lá de cima e coloquei ao meu alcance. Mais pertinho.
INDIAN SUMMER
In youth, it was a way I had
To do my best to please,
And change, with every passing lad,
To suit his theories.
But now I know the things I know,
And do the things I do;
And if you do not like me so,
To hell, my love, with you!
In youth, it was a way I had
To do my best to please,
And change, with every passing lad,
To suit his theories.
But now I know the things I know,
And do the things I do;
And if you do not like me so,
To hell, my love, with you!
Ai que ótimo.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Oi?
Carta do Caio para uma amiga. Escrita em 16 de janeiro de 1992.
Ooops. Lido ontem à noite. Susto. Amigos: atentem para a última palavra da penúltima frase. Que coisa, não?
"S´as que desisti do amor? Que alívio. É um processo que vem se arrastando há uns quatro anos, desde o que chamo de The Big Disaster, agora parece que con-so-li-dou-se. Será que é da idade? Fico ouvindo as pessoas naquele rodenir de ligou? -vou-ligar-não-sei-se-ligo-se-ligar-dizque-saí etc.&etc. e acho de uma pobreza alagoana.
Meu Deus, penso, tanto tanque cheio de roupa suja pra ser lavada, tanto piso pra ser encerado, tanta azálea mutante pra ser regada, tanta meia pra ser cerzida e fica essa vEadagem? Que perCa de tempo. Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais"
Meu Deus, penso, tanto tanque cheio de roupa suja pra ser lavada, tanto piso pra ser encerado, tanta azálea mutante pra ser regada, tanta meia pra ser cerzida e fica essa vEadagem? Que perCa de tempo. Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais"
Ooops. Lido ontem à noite. Susto. Amigos: atentem para a última palavra da penúltima frase. Que coisa, não?
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Ontem
Ontem a reportagem da revista da Folha foi sobre as casas onde moraram escritores famosos. Todo mundo leu? Ótimo. Aí Paulo Leminski morou na Rua Ceará, 247. Aqui em Higienópolis. Quero ver se passo por lá qualquer hora.
Mas enfim, Leminski tem este livro chamado "Gozo Fabuloso". A minha edição (será que foram muitas??) é de 2004. É um livro só de contos. Leminski não curtia contos. Mas fez o livro. Aí peguei um dia desses e sabe do que eu lembrava? NADA. Era como se eu não tivesse lido. E li. Em dezembro de 2004, mais precisamente. Reli algumas coisas na semana passada. E selecionei este trecho do conto "O segundo futuro":
"Sabia que, um dia, eu ia apanhar aquele avião para a Itália. Que ia ser de graça, eu sabia. Eu sabia que ia ganhar aquela bolsa. A viagem foi exatamente como eu imaginava. As tediosas esperas nos aeroportos. Os bares e restaurantes, todos iguais, as mesmas bebidas, as mesmas pessoas. Fiz amizade com uma figura linda no aeroporto de Lisboa. Fui falar com ela no aeroporto de Roma, ela disse, ´perdão, cavalheiro, mas nós nunca nos vimos´. I beg your pardon, miragem do mundo, ilusão suprema da infinidade de vidas possíveis".
Boa semana, queridos...
Mas enfim, Leminski tem este livro chamado "Gozo Fabuloso". A minha edição (será que foram muitas??) é de 2004. É um livro só de contos. Leminski não curtia contos. Mas fez o livro. Aí peguei um dia desses e sabe do que eu lembrava? NADA. Era como se eu não tivesse lido. E li. Em dezembro de 2004, mais precisamente. Reli algumas coisas na semana passada. E selecionei este trecho do conto "O segundo futuro":
"Sabia que, um dia, eu ia apanhar aquele avião para a Itália. Que ia ser de graça, eu sabia. Eu sabia que ia ganhar aquela bolsa. A viagem foi exatamente como eu imaginava. As tediosas esperas nos aeroportos. Os bares e restaurantes, todos iguais, as mesmas bebidas, as mesmas pessoas. Fiz amizade com uma figura linda no aeroporto de Lisboa. Fui falar com ela no aeroporto de Roma, ela disse, ´perdão, cavalheiro, mas nós nunca nos vimos´. I beg your pardon, miragem do mundo, ilusão suprema da infinidade de vidas possíveis".
Boa semana, queridos...
sábado, 3 de abril de 2010
WW
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Transgressão e Crescimento
Página 64 "A alma imoral"
"A experiência humana é marcada pela alternância de estados despertos e de torpor. Construímo-nos a partir dos acampamentos que fazemos e do levantar dos mesmos. Mas o rabi Nahum quer frisar a importância de se horrorizar, que é um dos sinais de percepção dos lugares estreitos. Quem não se horroriza perde a capacidade de detectar a estreiteza. Nossa insensibilidade se beneficia daquilo que não rompe, das ditas boas ações que não ferem os códigos da moral animal. Cada vez que fazemos o esperado, reforçamos um padrão humano automático de torpor. Existe em nós uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura.
Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos."
Nilton Bonder.
Bom feriado.
Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos."
Nilton Bonder.
Bom feriado.
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